Vício

Hoje me dei conta que já não penso mais em você todos os dias.

Não acordo mais delirante no meio da noite, como em um devaneio, sem conseguir discernir o real do onírico.

Não lembro mais de você depois de assistir a filmes excelentes ou ler livros incríveis que, com certeza, também o deixariam extasiado.

Não procuro mais seu nome no meio dos meus contatos do celular, nem das minhas mídias sociais.

Hoje a impossibilidade de nós dois não me corrói mais a alma, não liga mais a fonte infinita de lágrimas dos meus olhos.

Hoje não há mais dor, não há mais sofrimento, não há mais angústia, não há mais o ciúme horrível que me consumia vendo você preferir outros, elogiar outros, dormir com outros (ou outra).

Logo eu que não suporto o monstro de olhos verdes que zomba do próprio pasto que o alimenta.

Hoje há um imenso vazio aqui dentro, um grande pedaço pesado de nada.

E esse chiado, esse ruído na transmissão, esse farfalhar que o mundo inteiro ainda ouve.

É só o eco dos meus gritos silenciosos que reverberam ainda pelas paredes dos meus tecidos.

Mesmo que baixo, quase inaudível, mesmo que mudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário